quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Um País que Não Valoriza o Que é Seu Não se Valoriza

O reprodutor de CD’s do meu carro traiu me. Neste mês difícil ele decidiu mandar me passear recusando-se a reproduzir o conteúdo de qualquer disco que lhe seja entregue para esse fim.

Já recorria às rádios em momentos específicos para ouvir noticiários. Há muito que desistira de emprestar os meus ouvidos às rádios para ouvir música intoxicado que ficava de tanto ouvir música de outros cantos com maior predominância para o Semba angolano, num país com ritmos locais maravilhosamente interpretados por músicos de mão cheia como José Mucavele, Dilon Ndjindji, Mutxeca, Arão Litsure, Chico Antonio, Elsa Mangue,  pelos vários Langas, Zeburane, Felisberto Félix, Madala, Mazembe, Isaú Menezes por grupos como Massukos, K10, Gorwane e muitos outros.

Os sul africanos inventaram o Kwaito que foi suportado, celebrado a ponto de nos chegar como um estrondo.

Nós inventamos a marrabenta e/ou mesmo o Pandza/Dzukuta que dançamos nas nossas festas mas que tem menos espaço que os sembas e kwaitos de outros cantos.

Reduzimos a nossa música para espaços confinados nas TV’s e rádios com tempo limitadíssimo enquanto, até em horas impróprias passamos músicas de outros cantos com mulheres desnudas que fazem a fama pelas curvas do corpo do que pela voz que Mingas - a diva - se farta de demonstrar e exibir sem que as rádios se quer se dêem ao luxo de passar a sua música com a regularidade com que deviam passar.

Fazemos dos outros os heróis dos nossos filhos, relegando António Marcos, Xidiminguana, Machavele e outros ícones da nossa música genuinamente moçambicana ao plano do folclore e nos espantamos quando crescem sem saber quem eles proprios são ou sabendo mais de JZ e de Obama do que de 2 Caras e Guebuza.

Secundarizamos os jovens que, tal como os ditos da "velha guarda" na sua juventude assumidamente tocaram Rock n Roll, Rock etc, tocam ritmos estrangeiros mas já com preocupações com o que é nosso (vide Valdmiro José, Ziqo, Mr. Bow, Edu, Ta Basily, Anita Macuacua etc) para continuarmos a promover a mediocridade de muita música mal gravada e mal masterizada que vem de fora.

Um bom cidadão é também um homem culto. Valorizar os nossos músicos e a nossa música que é boa diz muito de nós e do que somos; até pela música poderemos saber os valores que nos estruturam como povo, como nação.

Cabe aqui um espaço de apreço ao Jornal “O País” edição fim de semana e ao seu editor, bem como ao colunista Amosse Macamo que, incansável e incessantemente, gostosamente nos bombardeiam com a nossa música e seus fazedores. Que dão destaque a uma classe de músicos que, de outra forma, seriam sempre esquecidos.

Ode a nós, ode a nossa música.

Que a nossa música seja a predominante e ocupe espaço maior e de destaque nas nossas rádios e TV’s e que façamos programinhas de música estrangeira. Que Sérgio Faife e sua team voltem e confirmem que é possível captar audiências nas rádios tocando música da casa todo o dia.

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